Não te vejo, não te sinto, estás longe.
A dor deste sofrimento faz-me degradar a imagem do destino, faz-me difamar a sua astúcia, faz-me querer voltar atrás e nunca te ter conhecido...por culpa desse invejoso facto do caminho da vida.
Sádico! Assim o apelido, que por me proibir de sentir-me todos os dias como me sinto quando estamos juntos, me consola com a saudade e a memória, com a nostalgia, com a acção sobrenatural de te ver em sonhos e realidade, com a ilusão de que estás comigo, presente, todos os dias, ao meu lado...Chama-se saudade ao sentimento cruel que o destino me propõe.
4 dias antes das 12 badaladas que celam o fim de 2010 e deparo-me adormecida no carro a caminho do nosso reencontro, num pulo acordo e cada minuto que passa compara-se a longas horas de nervosismo e ansiedade por te ver.
É estranho, cada vez que nos encontramos, parece-me como a 1ª vez... cliché hã?
Para aumentar a minha sorte, durante a pausa para encher o depósito, deparo-me com um furo no pneu traseiro direito.
Ah mas porquê destino? Será esta a tua maneira para me preparares para algo?
De volta á estrada, pergunto-me se terás mudado...terás barba, não terás? Cortaras o cabelo ou deixara-lo crescer?estarás mais alto, estarás igual...estarás diferente?...
Deixo-me de pensamento absurdos e foco-me no meu rumo, está quase.
Chego e tiro as coisas do carro, uma arrumadela aqui e ali, uma bucha para as horas do caminho com pouco sustento no estômago e penso se deverei ir ou não a esplanada...esplanada essa em que te conheci sim, esplanada essa que era o nosso ponto de encontro...mas não, talvez seja muito cedo, amanhã é um novo dia e já muitos pensamentos se apoderaram da minha mente, nada que uma noite de descanso não resolva. Amanhã é outro dia.
Dia 29, 15:26, acordo, do quarto já sinto o cheiro do almoço, uma breve passagem pela casa-de-banho e sento-me à mesa, conversas nas quais não participo enquanto penso se saberás se partilhamos a mesma vila.
Acabo a refeição e sigo-me novamente para o wc, num duche de 25 a 30 minutos com mais pensamentos e memórias que shampoo, enrolo-me na toalha e sigo para o quarto, visto-me e calço-me, dirijo-me para o espelho e penteio nostalgicamente os meus longos e outrora castanhos e alourados cabelos, observando a sua actual cor escura. Longos e encaracolados cabelos negros, será que vais notar?
Será esta mudança uma partida do meu sub consciente tentando transmitir-me uma mensagem?
Não sei mas não quero pensar mais nisso.
Continuando, coloco o risco do lápis e uma leve e acinzentada sombra nos olhos, ponho rímel nas minhas longas pestanas e finalizo com um baton de um rosa muito leve, estou pronta, aguardo a companhia pois não te vou enfrentar sozinha, e com isto chega o jantar que de tão pouco como devido ao nervosismo.
Acabada esta refeição vou a caminho da esplanada pelas curvadas estradas que definem o caminho até ti, um caminho contornado por árvores e arbustos que o torna um tanto assim "encantado".
Chego, sento-me e espero, o empregado vem e peço-lhe um café.
Petrarca, num pequeno gesto enquanto transporto os meus sentimentos para o papel, comparo-me a Petrarca, um poeta italiano do século XIV, que pelo que escreveu descobriu-se que Petrarca se apaixonara por uma rapariga chamada Laura apenas pelo olhar que cruzaram.
Laura era uma mulher casada e com 11 filhos, sem nunca ter falado com ela o poeta escreveu sobre o seu amor por ela, sobre o seu amor platónico, hum com esta história sinto-me uma sortuda, pelo menos tive a oportunidade de te conhecer, de travar conversas contigo, de te beijar a face e de receber um beijo teu e um simples toque...
Comparo-me com o poeta pois agora sei e sofro com isso, que és comprometido e assim o tencionas ficar por muito tempo, com essa informação que não fora partilhada comigo pela tua boca, por ti, sofro silenciosamente... minutos antes de chegares ao meu encontro dão-me a notícia, chocada dirijo-me a casa-de-banho e solto uma lágrima, pois antes meses de te conhecer já isto se dava.
Ela não te chega? Já não sentes aquela paixão, aquela adrenalina quando estás com ela?
Ou não passa de um mero acto para não te sentires só? Para te sentires completo? Mais completo?
Com estes pensamentos limpo as lágrimas derramadas.
Sem saber o que fazer dirijo-me a esplanada novamente, tu estás lá!
Não sei o que fazer e num puro reflexo inconsciente volto para trás e escondo-me atrás da parede que constitui um corredor para a casa-de-banho sem que notes, cuidadosamente espreito e vejo-te levantar a cabeça como que à procura de alguém, será de mim?
Envolvo-me numa respiração funda e vou em frente, depositas o teu doce olhar em mim sorris e deixas de procurar o que quer que fosse, concluindo eu que seria de mim.
Chego e sento-me, soltas um 'Olá' sorridente, eu retribuo com um 'Oi' seco, sentes o tom da minha voz e estranhas olhando para baixo como questionando-te a ti mesmo algo...questionar-te-ás se sei? não sei, neste momento já não sei se a nossa sintonia não passara de um acto teatral...sinto-me perdida...
Conseguiste tralhar o caminho mais longo e dificil, o caminho para o meu coração...e agora sinto-me vazia, sinto um caminho aberto e descoberto para o meu coração, sinto-me destapada, sinto-me nua, sinto um espaço por preencher, espaço esse que foste ceifando até ao mais ínfimo pormenor até ao cadeado da minha alma, que ao que parece, te entreguei a chave de bandeja e agora sofro por isso com um arrependimento inconsciente. Ficas a olhar para mim directa e fixamente sem te preocupares se notam ou não.
Sinto-me observada e continuo com o olhar baixo. Inspiro e levanto o rosto olhando-te nos olhos, o empregado faz-me sinal e como a esplanada está cheia, levanto-me e dirijo-me ao balcão, vens atrás de mim pegas-me a mão e puxas-me para as traseiras do café...ficas a olhar para mim e não dizes nada, e ao encontro do teu olhar solto uma lágrima...
Tu elevando o polegar direito, passa-lo pelo meu rosto limpando-me a gota de água salgada que escorria ao longo das minhas maçãs do rosto rosadas, de seguida levas a tua mão a parte de trás da minha cabeça e leva-la de encontro ao teu peito envolvendo-me num abraço profundo...pedes desculpa.
Levanto o olhar e sinto uma pinga no meu nariz...derramada por ti... se não passa de mero acto teatral força nisso, ao que parece tens jeito, pois todos os pensamentos que á pouco predominaram a minha mente, se dissolveram deixando-me com um sentimento de culpa... após outro abraço, a tua mão direita vai de encontro ao meu queixo elevando-o assim, fazendo os nossos lábios tocarem,e o nosso abraço mais forte, sentindo-te apertares-me como que não quisesses que nunca mais me fosse embora, e sentindo uma lágrima seguida de outra digo-te adeus e desapareço por entre o nevoeiro e o preto-carvão da noite...
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