Sem qualquer comunicação estabelecida no espaço de tempo em que as nossas presenças juntas estavam ausentes dá-se o reencontro.
Uma noite de verão, o céu estrelado, a aragem quente, as ruas cheias de gente, tudo normal como em qualquer outro dia. Convidam-me para sair, entro no carro e caminho a estrada curvada. Chegamos ao local onde nos conhecêramos. Sem me aperceber apareces por trás de mim tocas-me e dás-me um beijo como que desconhecidos, após te aperceberes quem era trocamos olhares mutuamente cúmplices sem que ninguém se aperceba. Sentas-te ao meu lado e inicia-se uma conversa de grupo na qual não participo mas escuto. Enquanto isso presenciamos todos uma bela noite de fogo-de-artifício. O tempo passa e continuam as trocas de olhares, levanto-me na direcção da casa-de-banho, segues-te tu na mesma direcção mas para pagar o café...antes de entrar pela porta olho para trás e deparo-me com o teu olhar doce...confirmo a ausência de qualquer pessoa na casa-de-banho e quando concluo isso, sinto a porta a abrir, entras bruscamente e empurras-me contra a parede bloqueando a porta, os nossos corpos tocam-se e sentimos uma corrente de ar intensamente quente, embora não hajam janelas. Encostas a tua cabeça na minha, ambos fechamos os olhos e sentimos a respiração de cada um há medida que as nossas mãos deslizam no corpo um do outro até ao coração onde sentimos a aceleração mutua do ritmo cardíaco. Ainda de olhos fechados os nossos lábios tocam-se sem selar um único beijo... Os números do tempo continuam a decorrer embora aquele momento pareça uma quebra no tempo da mesma maneira que ambos o desejamos que seja. Nada poderia igualar tal momento em que 2 corpos unidos daquela maneira, e dois bateres de corações como os nossos, pudessem soar tão apaixonadamente melódicos, acompanhando-se um ao outro de tal maneira que parecessem um só. Tão rapidamente começara como acabara e em dois segundo te afastas de mim, me olhas nos olhos e juntos saímos da casa-de-banho sem que ninguém se aperceba do que acabara de acontecer vendo apenas dois estranhos indivíduos a sair dos lavabos, naturalmente. Chegas há mesa e sentas-te, todos questionam a tua demora mas tu justifica-la apontando para a fila formada no balcão. O resto da noite eu tornara-me completamente ausente pois o meu pensamento presenciava os breves minutos passados, na casa-de-banho. Mais dias correram, e cada reencontro era, a partir daquela noite nos lavabos, indiferente, onde os nossos destinos se cruzavam unicamente através dos contínuos olhares que transmitia-mos um ao outro. Passou-se um mês sem trocarmos uma única palavra, em que a nossa comunicação se sustentava apenas de olhares. Uns dias mais tarde ergue-se um convite da tua parte, ao grupo de amigos onde ambos estávamos inseridos, para visitar o teu refúgio, a tua casa... convite esse, aceite apenas por 3 membros do grupo da qual 1 deles era eu. Os dias passam e esse dia chega. É já amanhã, não sei como reagir, não nos falamos desde aquele dia. Por fim vou-me deitar imaginando a decadência da noite seguinte, em que chego, te cumprimento e acaba ali a nossa ligação pois a minha partida aproxima-se. Já deitada, aguardo que o sono chegue, sem tirar durante um único segundo da cabeça, aquela maravilhosa tarde junto ao rio...será que não passou de um sonho? questionei-me nessa noite...adormeço com um sorriso nos lábios e um nervoso miudinho.
Dia seguinte. Acordo, espreguiço-me, levanto-me e dirijo-me há cozinha, encho uma taça de cereais sem leite e como com as pontas dos dedos. Estranha e inesperadamente relaxada com o que se segue vou preparar-me, faço a rotina. Abrir a água, deixar aquecer, despir o pijama, desprender o cabelo, entrar na banheira, molhar a cabeça, pôr shampoo, lavar a cabeça, pôr amaceador, esfregar o corpo com gel de duche e lavar os dentes enquanto o amaceador actua, pentear o cabelo, ainda com o condicionador, lavar e enxaguar novamente a cabeça e o corpo, enrolar-me na toalha, ir para o quarto, vestir-me, calçar-me, maquilhar-me e estou pronta.
Os dois outros membros do grupo aguardam-me no carro, entro e sigo rumo a tua casa. O tempo passa. Cheguei. Um deles toca há campainha e eu mantenho-me cá atrás, abres a porta cumprimentas todos e convidas-nos a entrar. Acanhada, sigo-te na direcção do teu quarto. Comenta-se a minha súbita mudança de humor sempre que estás presente, rapidamente apercebes-te que a pessoa envergonhada, calada e introvertida não passa de uma mera reacção de medo da tua reprovação, tentas descobrir mais sobre o meu 'eu', mas continuo reservada a teu respeito, os outros dois continuam a sua conclusão de que não sou a mesma, mas não tenho maneira de o negar, mudas a minha pessoa, na tua presença sinto-me uma presa fácil no meio do prado, sinto-me indefesa contra as tuas reacções pois desconheço-as, mas rapidamente invoco um assunto que muda o tema de conversa e que faz sair o meu 'eu' cá para fora, começas a conhecer-me e apercebo-me que o medo da tua reprovação fora em vão, pois demonstras uma atitude contrária. Cada vez vais puxando mais de mim, e eu vou-te dando, qualquer pessoa de fora sentia aquele ambiente de sintonia, os nossos pensamentos acompanhavam-se lado a lado, os nossos interesses eram paralelos, a tua vida não se compara há minha, os nossos estilos de vida contrapõem-se. Somos os opostos. Resta apenas dizer que eu sou da cidade e tu do campo. As horas passam e rapidamente a noite cai, vimos filmes acompanhados de pizza. Ouvimos musica. Recorda-mos momentos históricos. Comentamos partes das nossas vidas. Até que nos apercebemos que os outros dois adormeceram... olho para o relógio, este marca 04:31. Não nos deixamos levar pelas horas e continuamos a falar. Um deles acorda e junta-se a conversa acabando por adormecer novamente sem darmos conta. Pergunto onde é a casa-de-banho e mostras-me o caminho. Chegamos eu lavo a cara e seco com a toalha, não tinha reparado que tinhas ficado a olhar para mim... olhas-me nos olhos, eu aproximo-me, mas desta vez guio-te eu, encostando-me contra a parede, olho para o chão e ergo os olhos nos teus como que um chamamento...vens na minha direcção e dá-se uma inspiração de ar violenta...de olhos fechados e com a cabeça no teu peito, sinto a tua mão esquerda no meu pescoço, e a direita na minha perna, estando ela assim pairada no ar, com o meu joelho na tua coxa, segura apenas pela tua mão. As minhas mãos percorrem o teu corpo passando levemente pelos teus braços sentindo os teus músculos, até ás tuas costas, agarrando-te e apertando-te, puxando-te e encostando o teu corpo no meu até que os nossos peitos se unissem e eu te sentisse, até as tuas mão se envolverem nas minhas costas, por dentro da camisola sentindo a minha pele quente, depressa as tuas mãos continuam o caminho do meu corpo descendo as costas e separando-se nas minhas ancas. Eu ponho as mãos na tua nuca e ali, após este momento de conforto e de carinho, beija-mo-nos finalmente. A respiração acelera e rapidamente fechas a porta trancando-a connosco lá dentro. Seguem-se mais beijos mas paramos. Esperamos calados olhando um para o outro. Senta-mo-nos no chão frio e decorre mais uma longa conversa saudável, acompanhada de sorrisos e muitas outras coisas, dou por mim de cabeça deitada no teu colo a olhar-te intensa e profundamente, baixas a cabeça, beija-mo-nos novamente mas através do pequeno cliché chamado beijo há Spider-man. Os meus olhos fecham-se para sentir o beijo e acaba-se a noite... mais tarde, enquanto observo o céu cheio de estrelas pelo vidro do carro no qual se inicia a minha partida ou por outras palavras o meu regresso a casa, acompanhado de um sorriso pelo que acabara de viver, vem um breve sentimento de Nostalgia.