segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Reencontro


Sem qualquer comunicação estabelecida no espaço de tempo em que as nossas presenças juntas estavam ausentes dá-se o reencontro.
Uma noite de verão, o céu estrelado, a aragem quente, as ruas cheias de gente, tudo normal como em qualquer outro dia. Convidam-me para sair, entro no carro e caminho a estrada curvada. Chegamos ao local onde nos conhecêramos. Sem me aperceber apareces por trás de mim tocas-me e dás-me um beijo como que desconhecidos, após te aperceberes quem era trocamos olhares mutuamente cúmplices sem que ninguém se aperceba. Sentas-te ao meu lado e inicia-se uma conversa de grupo na qual não participo mas escuto. Enquanto isso presenciamos todos uma bela noite de fogo-de-artifício. O tempo passa e continuam as trocas de olhares, levanto-me na direcção da casa-de-banho, segues-te tu na mesma direcção mas para pagar o café...antes de entrar pela porta olho para trás e deparo-me com o teu olhar doce...confirmo a ausência de qualquer pessoa na casa-de-banho e quando concluo isso, sinto a porta a abrir, entras bruscamente e empurras-me contra a parede bloqueando a porta, os nossos corpos tocam-se e sentimos uma corrente de ar intensamente quente, embora não hajam janelas. Encostas a tua cabeça na minha, ambos fechamos os olhos e sentimos a respiração de cada um há medida que as nossas mãos deslizam no corpo um do outro até ao coração onde sentimos a aceleração mutua do ritmo cardíaco. Ainda de olhos fechados os nossos lábios tocam-se sem selar um único beijo... Os números do tempo continuam a decorrer embora aquele momento pareça uma quebra no tempo da mesma maneira que ambos o desejamos que seja. Nada poderia igualar tal momento em que 2 corpos unidos daquela maneira, e dois bateres de corações como os nossos, pudessem soar tão apaixonadamente melódicos, acompanhando-se um ao outro de tal maneira que parecessem um só. Tão rapidamente começara como acabara e em dois segundo te afastas de mim, me olhas nos olhos e juntos saímos da casa-de-banho sem que ninguém se aperceba do que acabara de acontecer vendo apenas dois estranhos indivíduos a sair dos lavabos, naturalmente. Chegas há mesa e sentas-te, todos questionam a tua demora mas tu justifica-la apontando para a fila formada no balcão. O resto da noite eu tornara-me completamente ausente pois o meu pensamento presenciava os breves minutos passados, na casa-de-banho. Mais dias correram, e cada reencontro era, a partir daquela noite nos lavabos, indiferente, onde os nossos destinos se cruzavam unicamente através dos contínuos olhares que transmitia-mos um ao outro. Passou-se um mês sem trocarmos uma única palavra, em que a nossa comunicação se sustentava apenas de olhares. Uns dias mais tarde ergue-se um convite da tua parte, ao grupo de amigos onde ambos estávamos inseridos, para visitar o teu refúgio, a tua casa... convite esse, aceite apenas por 3 membros do grupo da qual 1 deles era eu. Os dias passam e esse dia chega. É já amanhã, não sei como reagir, não nos falamos desde aquele dia. Por fim vou-me deitar imaginando a decadência da noite seguinte, em que chego, te cumprimento e acaba ali a nossa ligação pois a minha partida aproxima-se. Já deitada, aguardo que o sono chegue, sem tirar durante um único segundo da cabeça, aquela maravilhosa tarde junto ao rio...será que não passou de um sonho? questionei-me nessa noite...adormeço com um sorriso nos lábios e um nervoso miudinho.
Dia seguinte. Acordo, espreguiço-me, levanto-me e dirijo-me há cozinha, encho uma taça de cereais sem leite e como com as pontas dos dedos. Estranha e inesperadamente relaxada com o que se segue vou preparar-me, faço a rotina. Abrir a água, deixar aquecer, despir o pijama, desprender o cabelo, entrar na banheira, molhar a cabeça, pôr shampoo, lavar a cabeça, pôr amaceador, esfregar o corpo com gel de duche e lavar os dentes enquanto o amaceador actua, pentear o cabelo, ainda com o condicionador, lavar e enxaguar novamente a cabeça e o corpo, enrolar-me na toalha, ir para o quarto, vestir-me, calçar-me, maquilhar-me e estou pronta.
Os dois outros membros do grupo aguardam-me no carro, entro e sigo rumo a tua casa. O tempo passa. Cheguei. Um deles toca há campainha e eu mantenho-me cá atrás, abres a porta cumprimentas todos e convidas-nos a entrar. Acanhada, sigo-te na direcção do teu quarto. Comenta-se a minha súbita mudança de humor sempre que estás presente, rapidamente apercebes-te que a pessoa envergonhada, calada e introvertida não passa de uma mera reacção de medo da tua reprovação, tentas descobrir mais sobre o meu 'eu', mas continuo reservada a teu respeito, os outros dois continuam a sua conclusão de que não sou a mesma, mas não tenho maneira de o negar, mudas a minha pessoa, na tua presença sinto-me uma presa fácil no meio do prado, sinto-me indefesa contra as tuas reacções pois desconheço-as, mas rapidamente invoco um assunto que muda o tema de conversa e que faz sair o meu 'eu' cá para fora, começas a conhecer-me e apercebo-me que o medo da tua reprovação fora em vão, pois demonstras uma atitude contrária. Cada vez vais puxando mais de mim, e eu vou-te dando, qualquer pessoa de fora sentia aquele ambiente de sintonia, os nossos pensamentos acompanhavam-se lado a lado, os nossos interesses eram paralelos, a tua vida não se compara há minha, os nossos estilos de vida contrapõem-se. Somos os opostos. Resta apenas dizer que eu sou da cidade e tu do campo. As horas passam e rapidamente a noite cai, vimos filmes acompanhados de pizza. Ouvimos musica. Recorda-mos momentos históricos. Comentamos partes das nossas vidas. Até que nos apercebemos que os outros dois adormeceram... olho para o relógio, este marca 04:31. Não nos deixamos levar pelas horas e continuamos a falar. Um deles acorda e junta-se a conversa acabando por adormecer novamente sem darmos conta. Pergunto onde é a casa-de-banho e mostras-me o caminho. Chegamos eu lavo a cara e seco com a toalha, não tinha reparado que tinhas ficado a olhar para mim... olhas-me nos olhos, eu aproximo-me, mas desta vez guio-te eu, encostando-me contra a parede, olho para o chão e ergo os olhos nos teus como que um chamamento...vens na minha direcção e dá-se uma inspiração de ar violenta...de olhos fechados e com a cabeça no teu peito, sinto a tua mão esquerda no meu pescoço, e a direita na minha perna, estando ela assim pairada no ar, com o meu joelho na tua coxa, segura apenas pela tua mão. As minhas mãos percorrem o teu corpo passando levemente pelos teus braços sentindo os teus músculos, até ás tuas costas, agarrando-te e apertando-te, puxando-te e encostando o teu corpo no meu até que os nossos peitos se unissem e eu te sentisse, até as tuas mão se envolverem nas minhas costas, por dentro da camisola sentindo a minha pele quente, depressa as tuas mãos continuam o caminho do meu corpo descendo as costas e separando-se nas minhas ancas. Eu ponho as mãos na tua nuca e ali, após este momento de conforto e de carinho, beija-mo-nos finalmente. A respiração acelera e rapidamente fechas a porta trancando-a connosco lá dentro. Seguem-se mais beijos mas paramos. Esperamos calados olhando um para o outro. Senta-mo-nos no chão frio e decorre mais uma longa conversa saudável, acompanhada de sorrisos e muitas outras coisas, dou por mim de cabeça deitada no teu colo a olhar-te intensa e profundamente, baixas a cabeça, beija-mo-nos novamente mas através do pequeno cliché chamado beijo há Spider-man. Os meus olhos fecham-se para sentir o beijo e acaba-se a noite... mais tarde, enquanto observo o céu cheio de estrelas pelo vidro do carro no qual se inicia a minha partida ou por outras palavras o meu regresso a casa, acompanhado de um sorriso pelo que acabara de viver, vem um breve sentimento de Nostalgia.

Nostalgia

Ouvem-se as águas movimentarem-se de um lado para o outro, sente-se a corrente e o rumo tomado por aquele que nos refresca, nos dá visões de vida, perspectivas de frio, o começo de uma brincadeira, o poder de o domar, a ilusão de ser só nosso, a inveja da sua riqueza, a vontade de liberdade, onde se presencia vida a cada momento...mas antes do encontro vem o conhecer...
noite quente, esplanada cheia. Uma chávena de café não mão esquerda, cigarro na mão direita, cadeiras espalhadas com amigos ausentes, barulho...apareces sem eu dar conta, levanto-me e beijas-me a face, dizes-me o nome e perguntas-me o meu...período de tempo...enquanto apago o cigarro e pouso a chávena do café, sentes a minha mão fria no momento em que me ajudas a sair do cubículo em que me enfiara...entro e pago. Saio e tenho-te há minha espera. Tomas-me a mão e eu pergunto onde vamos, conduzes-me a descer as escadas e sorris com cumplicidade...fico há deriva no meu pensamento...continuamos a andar e levas-me a uma sala...uma sala cheia com uma mesa no meio, aguardas reacção e eu sorrio...avançamos na direcção da mesa pegas nas maçanetas e rodas o pulso com objectivo de conduzir a bola. O tempo passa. A diferença de números é 3-2, a vitória no momento permanece tua...sem hesitares levas a bola, não com objectivo de vencer mas sim de me deixares fazê-lo e passas-me a pequena esfera, eu marco...repetiste-o mais 2 vezes...eu ganho e ofereces-me um prémio - um dia bem passado como esta noite... - o telefone toca, aguardo-te no carro dizia a mensagem.hora da despedida. Dizes adeus e dás-me um beijo na cara, com sorrisos mutuamente cúmplices dizes até amanhã. Bochechas vermelhas e arrepios pelo corpo...período de tempo...chego a casa, vou para o quarto. A ânsia que chegue o amanhã consome-me as forças...a barriga aperta mas no entanto adormeço com um sorriso nos lábios...
É de manhã. Descalça percorro o corredor até à casa de banho. Duche de água fria para acordar, visto-me, preparo-me para sair. Direcciono-me para o parque.Estás lá mas não me vez. Observo-te atentamente. Estás feliz, sorris e bates o pé como que um nervoso miudinho...desço os degraus, encontro-me contigo e dou-te um beijo na bochecha. Coramos, sorrimos...sentados num banco há frente de crianças enérgicas a brincar e no decorrer de uma hora pouco falamos...fartos de silêncio começamos a falar ao mesmo tempo...Calo-me, quero ouvir-te...falas-me de um rio e convidas-me a visitá-lo...levanta-mo-nos e lado a lado sigo o teu rumo...descemos uma e duas colinas, passamos a vila e andamos mais, relva, é tudo verde. Árvores, uma ponte, o rio e o céu azul e limpo por cima das nossas cabeças. Sorrimos enquanto apreciamos. Chegámos. Sento-me no chão e tu ao meu lado...falamos do campo e da cidade, do sol e da chuva, de peixe e de carne, da vida e de morte e por fim da única coisa mais bonita que o teu interior...música. Pegas no teu instrumento que nos acompanhara até ali e deixas fluir a melodia soada pelo D'jambé. Sentada a olhar para ti, aprecio o teu 'eu' a sair abraçado a cada nota que se desenrola da melodia. Faz-se o flash da gravação do momento, ouve-se o pi do inicio do filme que está a ser feito por mim. Observo o rio e sinto-me calma...separas-te do descodificador de personalidade, dás-me a mão e deita-mo-nos na relva...por cima de nós o céu limpo e azul, o topo de algumas árvores, o som dos passarinhos e o bater das asas das borboletas. Dia de Primavera. Flores há nossa volta...sinto-te a olhar para mim...o tempo passa e desenrola-se algo...breve momento de olhos nos olhos. Sinto o sabor do teu beijo, mas desta vez não um beijo de Olá ou Adeus mas sim um beijo de pura conexão. Sente-se a onda de boas vibes que nos rodeia. Apertas-me e encostas-me contra o teu peito num abraço profundo...um abraço de futura despedida, um abraço da qual nunca se quer que acabe...nesse momento senti-te...nesse dia muitas coisas aconteceram e hoje é horrenda a saudade que me assombra todos os dias...quando te encontro em sonhos e acordo a sentir o teu toque, o teu abraço, o teu beijo. tremendo é este sentimento que me faz sentir-te como se estivesses aqui. Tal é a dor de não saber se te volto a ver que olho para o céu sorrio e agradeço por aquele maravilhoso dia de primavera, há beira do rio, acompanhados por uma melódica musica que nos transporta para um estado zen, em que te conheci e senti como eras...O tempo passa e os dias decorrem...a saudade permanece acompanhada da nostalgia
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